Marina Lima no Lollapalooza: 5 perguntas para entender atual fase da cantora
29/03/2025
(Foto: Reprodução) Antenada, Marina receberá Pabllo Vittar e pode incluir covers de divas no festival. Ela fala ao g1 sobre sua visão do pop: 'Quero ser atraente - e, se puder, irresistível -- com uma canção'. Marina Lima explica como 'pop sáfico' reflete em sua carreira
Aos 69 anos, Marina Lima está em plena atividade: concilia duas turnês (“Rota 69” e “Uma noite com Marina”), viaja pelo circuito de festivais e se prepara para cantar pela primeira vez no Lollapalooza, festival no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.
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Conversando com Marina, a sensação é de que, conforme ela envelhece, o mundo vai ganhando cada vez mais charme. “Eu gosto muito ainda de aprender. Várias coisas: sobre as sociedades, sobre a política, sobre o que mulheres que me interessam têm a dizer, principalmente as mais velhas", diz a cantora, em entrevista ao g1.
“Você tem que estar bem na sua idade, no tempo em que você vive, e não ficar correndo atrás de um fantasma antigo, que você não é mais, não só fisicamente.”
A cantora Marina Lima
Candé Lima / Divulgação
Antenada, ela faz questão de reservar um tempo para ouvir o que anda em alta na música pop, e inclui em seu show covers de nomes como Beyoncé e Billie Eilish. Algumas dessas releituras podem aparecer na apresentação do Lolla, assim como participações surpresa -- Pabllo Vittar já foi anunciada. “Essas coisas também são importantes para entender o mundo e ver por onde eu vou querer andar.”
No percurso, Marina carrega o desejo de honrar sua própria visão do que é ser pop. “A ambição que eu tenho é me tornar atraente - e, se puder, irresistível -- com uma canção. Gosto de criar um mundo sonoro ao qual as pessoas não resistam, para mim isso é pop.”
Abaixo, Marina Lima responde 5 perguntas que ajudam a entender a fase da carreira que ela mostrará no Lollapalooza.
g1 - Você nunca teve medo de se definir como uma artista pop e sempre rejeitou a carga pejorativa que algumas pessoas atribuem a esse termo. Para você, o que é um som pop?
Marina Lima - Hoje esses aplicativos, como o Spotify, eles mesmos fazem a classificação de qual é o gênero da música. Antigamente, você mesmo tinha que fazer isso. Dito isso, para mim, a música pop é, ao contrário do que muita gente pensa, a que se enquadra em qualquer gênero. É como a Beyoncé: ela fez um disco todo cowboy, numa área dominada pelos brancos americanos típicos. E invadiu a rádio, porque fez algo que não é regional, é dela também. Ela é pop e invadiu o country.
"A ambição que eu tenho em ser pop é me tornar atraente - e, se puder, irresistível -- com uma canção."
Eu sou primordialmente uma compositora. O que eu mais gosto é de compor, tanto que, volta e meia, eu gravo músicas que eu queria ter feito. Gosto de criar um mundo sonoro ao qual as pessoas não resistam, para mim isso é pop. Eu e o meu irmão escrevemos o manifesto do disco “Fullgás”, que dizia assim: às vezes, o novo vem de onde menos se espera, o vulgar pode vir do mais sutil. Em qualquer lugar tem talento.
Antonio Cícero e Marina Lima
Reprodução/Instagram/@marinalimax
g1 - Você é muito antenada no que rola de atual no pop. Vi um show da turnê “Uma Noite com Marina” em que você cantou “Bodyguard”, da Beyoncé. Como você se atualiza sobre música?
Marina Lima - Eu reservo um tempo para ouvir. Primeiro, porque eu amo música, é o motivo pelo qual eu faço isso. Quando eu morava fora, no exterior [Marina passou parte da infância nos Estados Unidos], sentia falta do Brasil desde pequenininha, naquele frio. O que me aqueceu foi a música, então tenho essa ligação. Não ouço música o tempo todo, mas, na hora da profundidade, em que eu preciso conversar comigo mesma: música.
E eu gosto mesmo de descobrir. Não é fácil descobrir coisas de que eu gosto, sou meio seletiva. Entendo qual é a onda, e aí tem uma ou duas canções de que eu gosto da onda. Mas eu fico procurando coisas que talvez não sejam ondas, mas que vão começar um novo mar, sabe? Às vezes, eu acho.
Artistas como Beyoncé… nem sempre, às vezes eu acho as composições meio banais. Mas ela fica cada vez melhor porque é uma mulher preta consciente, tem muito poder, canta como ninguém, rebola, faz tudo que todo mundo quer ver e é política.
Outro dia me vi assistindo ao documentário da Anitta. Essas coisas chegam até mim e eu acho que também são importantes para entender o mundo e ver por onde eu vou querer andar. Essa coisa de cantar Beyoncé é para sinalizar: isso aqui eu gostei. Meio que para falar: sou curiosa e estou ligada.
g1 - Recentemente, publicamos no g1 uma reportagem sobre o "pop sáfico". Artistas como Billie Eilish e Chappell Roan estão falando, de forma muito aberta, sobre amores e desejos entre mulheres. No Brasil, a Ludmilla está construindo uma família com outra mulher, aos olhos do público. Isso reverbera nesse momento da sua carreira?
Marina Lima - Reverbera porque isso chegou no pop, mas não começou lá, é uma coisa da sociedade. As minorias -- que não são minorias -- começaram a reivindicar seus direitos: os LGBT+, os trans, os assexuados, os pretos… Todo mundo que era meio invisível, porque não estava no poder, resolveu não aguentar mais essa opressão e começou a fazer um movimento de baixo para cima. Essas pessoas -- como eu mesma, na minha carreira -- passaram a ver que têm que levar isso adiante, já que elas têm voz.
"Para que serve ser famoso hoje em dia, ter voz e não usar? Você está fazendo o quê? Alguém que tem voz, espaço e gente interessada só pode estar se posicionando. Eu não vejo sentido num artista não estar tentando melhorar a civilização."
Eu não vou dizer que é uma obrigação… quer dizer, para mim é, para os grandes é. Mas cada um faz o que achar melhor.
Marina Lima em ensaio fotográfico para a capa do álbum 'Simples como fogo', de 1979
Antonio Guerreiro
g1 - Esses dias li um livro chamado “De Quatro”, da Miranda July, que tem uma parte com mulheres falando o que melhorou na vida delas depois da menopausa. Lembrei disso quando li uma entrevista sua dizendo que você só passou a dominar a sua vida depois dos 60 anos. O que mudou?
Marina Lima - Todo mundo fala muito muito de menopausa, mas eu nunca denominei minhas mudanças assim. Engraçado, né? A menopausa veio, normal. É uma coisa que você espera, é da natureza. Tem muitas coisas que fazem parte do amadurecimento e a menopausa é uma delas.
Eu gosto muito ainda de aprender. Várias coisas: sobre as sociedades, sobre a política, sobre o que mulheres que me interessam têm a dizer, principalmente as mais velhas. Vejo muitas entrevistas da Jane Fonda, da Fernanda Montenegro, sobre a arte de envelhecer. Adoro aprender com as minhas manas mais velhas, que eu admiro, como elas lidam com isso. E adoro também descobrir uma forma minha e passar adiante o que eu puder. Isso é mais do que a música, é uma maneira de encarar a vida.
"Gosto de achar que estou melhorando o meu traço. Se alguém for me desenhar, o meu traço não pode ser o de 15, 20 ou 30 anos, porque o meu rosto foi mudando."
Eu acho a Fernanda Montenegro uma mulher linda. Você tem que estar bem na sua idade, no tempo em que você vive, e não ficar correndo atrás de um fantasma antigo, que você não é mais, não só fisicamente. A vida é uma escola: tem acertos e também alguns equívocos, com os quais você vai aprendendo e aprimorando. E a velhice, com saúde e cuidados, pode trazer isso. Eu estou gostando.
Marina Lima canta em palco da Virada Cultural de São Paulo, em 2019
Fábio Tito/G1
g1 - Você vem se apresentando bastante no circuito de festivais, e é uma artista que consegue dar um tom intimista até para esses shows maiores. Qual a parte mais legal de cantar num festival?
Marina Lima - Você sabe por que eu acho que parece intimista? Porque é profundo. As pessoas todas têm questões, além de dançar e de se divertir, mesmo em um festival. Elas querem toques: querem receber toques e beleza. O festival é legal porque são vários shows e um público enorme, cheio de gente interessante, interessada em ouvir, em captar alguma coisa. Isso me proporciona cumprir o que eu acho que seja a minha função aqui nessa Terra: trazer beleza, arte, questionamentos e música.